No início do mês de Agosto, uma situação controversa surgiu no cenário académico quando dois terços dos editores associados do Journal of Biogeography decidiram renunciar aos seus cargos. O motivo por trás dessa renúncia em massa foi uma disputa com a editora Wiley, responsável pela publicação da revista. A principal fonte de discordância entre os editores associados e a Wiley é a política de cobrança de taxas para a publicação de artigos em acesso aberto, que chega a atingir US$ 4,8 mil por artigo.
A polémica teve início em Junho, quando o editor-chefe da revista, Mike Dawson, que também é pesquisador na Universidade da Califórnia, Merced, renunciou ao seu cargo como forma de protesto contra as políticas de publicação da Wiley. Ele ressaltou que a editora se recusou a explorar soluções produtivas para os desafios enfrentados pelo periódico. Essa renúncia foi seguida por uma série de outras, com os editores associados se recusando a analisar manuscritos e buscando uma negociação com a editora.
Uma das principais preocupações levantadas pelos editores associados é o alto custo das taxas de publicação em acesso aberto. Eles argumentam que essas taxas exorbitantes podem afectar negativamente a qualidade da publicação, além de excluir autores de países com menor poder aquisitivo. A falta de financiamento em regiões como o hemisfério Sul também foi destacada como um obstáculo para pesquisadores que desejam publicar seus trabalhos.
As condições de trabalho da equipe editorial e as estratégias comerciais da Wiley também foram alvo de críticas. Os editores expressaram insatisfação com a prática da editora de encaminhar automaticamente manuscritos rejeitados por uma revista para outros títulos de sua propriedade, argumentando que isso prejudica a liberdade de escolha dos autores sobre onde publicar seus trabalhos.
Apesar das tentativas de negociação, as renúncias colectivas foram inevitáveis. A Wiley, por sua vez, negou que pretende converter o Journal of Biogeography em um modelo exclusivo de acesso aberto e afirmou que os editores não são obrigados a encaminhar manuscritos rejeitados para outras revistas da editora.
Este caso não é isolado, visto que renúncias em massa de editores de revistas científicas têm se tornado mais comuns. Outras revistas, como NeuroImage e NeuroImage: Reports, também enfrentaram disputas sobre as taxas de publicação em acesso aberto. A pressão dos conselhos editoriais para que as práticas das revistas estejam alinhadas com as normas da comunidade académica, em vez das estratégias comerciais das editoras, tem sido um tema recorrente.
O episódio reflecte as complexidades e desafios enfrentados no actual cenário de publicação académica, onde os interesses dos autores, das instituições de pesquisa e das editoras muitas vezes colidem.
A Wiley é uma editora académica e científica que desfruta de reconhecimento global. Sua actuação abrange a publicação de diversos periódicos e livros científicos, contribuindo para a disseminação do conhecimento em várias áreas do saber. No entanto, recentemente, a empresa tem enfrentado controvérsias relacionadas a políticas de publicação e preços cobrados, o que levou à renúncia de editores de algumas revistas científicas associadas a ela. Esses incidentes ressaltam a complexidade das questões envolvendo acesso aberto, financiamento e equidade na disseminação da pesquisa científica.