A crise crescente de resíduos plásticos e as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) colocam em risco a sustentabilidade ambiental e a saúde pública, alertam especialistas. Um estudo recente projeta que, se não forem tomadas medidas significativas, até 2050 a quantidade de resíduos plásticos mal geridos poderá duplicar, atingindo 121 milhões de toneladas por ano. Ao mesmo tempo, as emissões de GEE provenientes da produção e gestão de plásticos aumentarão 37%, chegando a 3,35 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente.

 

O problema dos resíduos mal geridos é mais evidente no Sul Global, onde a falta de infra-estruturas adequadas para a gestão de resíduos e reciclagem agrava a situação. Estima-se que cerca de 90% dos resíduos plásticos mal geridos do mundo estejam concentrados nessas regiões, enquanto os países mais ricos, como os Estados Unidos e os membros da União Europeia, consomem a maior parte dos plásticos per capita, mas gerem melhor os seus resíduos. Este desequilíbrio é motivo de preocupação tanto para ambientalistas quanto para defensores da justiça social.

 

O tratado das Nações Unidas sobre a poluição por plásticos, que está em desenvolvimento desde 2022, apresenta-se como uma oportunidade histórica para reverter este cenário. Através de quatro políticas principais, que incluem a obrigatoriedade de conteúdo reciclado em produtos e a limitação da produção de plásticos virgens, os cientistas projetam que é possível reduzir em 91% os resíduos plásticos mal geridos até 2050. Além disso, essas políticas poderiam também cortar em um terço as emissões de GEE associadas à produção e gestão de plásticos.

 

O estudo revela ainda que o investimento em infra-estruturas para a reciclagem e a gestão de resíduos é uma das estratégias mais eficazes para combater a crise. Contudo, a implementação dessas medidas exige vontade política e cooperação internacional. Outra solução discutida no tratado é a imposição de taxas ou proibições sobre embalagens de uso único, que têm sido um dos maiores vilões na proliferação de resíduos plásticos.

 

O impacto desta crise ambiental também vai além do meio ambiente. A saúde humana está em risco, com a exposição a produtos químicos resultantes da produção e degradação de plásticos sendo associada a doenças graves, como o cancro. Especialmente em países do Sul Global, muitas comunidades marginalizadas vivem próximas a instalações de tratamento de resíduos e fábricas de plásticos, tornando-as mais vulneráveis a esses efeitos prejudiciais.

 

Com as negociações para o tratado global em curso, há uma oportunidade única de enfrentar esta crise antes que as previsões para 2050 se concretizem. O tempo, porém, é curto, e as acções globais precisam ser rápidas e coordenadas para evitar um futuro marcado por mais poluição e desequilíbrios climáticos.