Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) revelou a presença de microplásticos no cérebro humano. Publicado no periódico Jama nesta segunda-feira (16), a pesquisa encontrou partículas plásticas em 8 dos 15 cérebros analisados, sendo o polipropileno (comum em roupas e embalagens) o tipo mais frequente, presente em 43,8% dos casos.

O cérebro, por ser protegido pela barreira hematoencefálica, que filtra substâncias potencialmente nocivas, havia sido considerado inacessível a essas partículas. No entanto, a líder do estudo, Thais Mauad, da Faculdade de Medicina da USP, afirmou que as vias olfativas são uma possível rota de entrada para os microplásticos, sugerindo que eles podem atingir o cérebro pelo nariz, como ocorre com poluentes.

Os microplásticos foram identificados no bulbo olfatório, região responsável pelo processamento de odores, o que reforça a hipótese de que as partículas chegam ao cérebro por meio da respiração. Segundo Mauad, os achados são preocupantes, principalmente para crianças, cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento. Embora os efeitos na saúde humana ainda sejam incertos, estudos em animais indicam que os microplásticos podem ser neurotóxicos, afetando o comportamento e as células cerebrais.

A pesquisa, realizada com amostras de cérebros de pessoas que viviam em São Paulo há pelo menos cinco anos, foi conduzida em parceria com Luis Fernando Amato-Lourenço, da Universidade Livre de Berlim. As amostras foram analisadas no Serviço de Verificação de Óbitos de São Paulo, e os testes laboratoriais realizados no Laboratório Brasileiro de Luz Síncrotron (LNLS).

Estudos anteriores já haviam sugerido a presença de microplásticos em outros órgãos, como pulmões e até no sistema cardiovascular, mas a confirmação de que essas partículas podem alcançar o cérebro abre novas questões sobre os impactos dessa contaminação na saúde pública.