A aplicação da energia nuclear na agricultura em Angola tem desempenhado um papel crucial na busca por soluções para desafios específicos enfrentados no sector agrícola. Estudos abrangendo a dinâmica do nitrogénio no sistema solo-planta-atmosfera, mutação induzida (alterações genéticas provocadas artificialmente), radio entomologia (uso de radiação para estudar insectos), irradiação de alimentos e compreensão do ciclo hidrológico tornaram-se possíveis graças ao uso de isótopos (átomos do mesmo elemento com diferentes números de neutrões).
Os isótopos( variações de um mesmo elemento químico que têm o mesmo número de prótons, mas um número diferente de neutrões em seus núcleos) são utilizados extensivamente como ferramentas de trabalho em países desenvolvidos, mas em Angola, a pesquisa nesta área ainda é limitada. O Laboratório de Isótopos do Centro Nacional de Investigação Científica (CNIC), em colaboração com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), tem liderado iniciativas para preencher essa lacuna.
No ano de 2019, o Projecto ANG-5015, intitulado “Obtenção de plantas tolerantes à seca na província do Cunene por mutação induzida com raios gama”, visou desenvolver plantas de feijão mais resistentes ao stress hídrico. Sementes de feijão foram irradiadas com doses de raios gama no Instituto Agronómico de Campinas, Brasil, resultando em descobertas promissoras, apesar de desafios na germinação devido à alta dose mutagénica.
Além disso, o Projecto F30056, actualmente em andamento, concentra-se na hidrologia isotópica (uso de isótopos para rastrear movimentos da água) para entender as variações sazonais na composição dos isótopos estáveis na água da chuva. Amostras de chuva colectadas em diferentes estações meteorológicas foram analisadas, e os resultados preliminares já contribuíram para a criação de uma base de dados nacional de isótopos de precipitação, essencial para avaliar os recursos hídricos em Angola.
Os pesquisadores envolvidos neste trabalho destacam a importância desses projectos para enfrentar a escassez de água em determinadas regiões do país, fornecendo dados cruciais para a gestão sustentável dos recursos hídricos. Com o apoio da energia nuclear, a agricultura angolana está avançando na busca por soluções inovadoras e sustentáveis para enfrentar os desafios agrícolas contemporâneos.
