Cientistas australianos demonstram que é possível reverter os danos sinápticos provocados pela doença de Alzheimer usando estimulação magnética cerebral não invasiva. O estudo, publicado na revista Neurophotonics, foi realizado por investigadores da Universidade de Queensland e do Centro de Pesquisa e Educação em Demência Wicking, na Tasmânia.
A técnica utilizada chama-se estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS), que consiste na aplicação de pulsos eletromagnéticos sobre áreas específicas do cérebro. Embora já usada para tratar depressão e outras doenças neurológicas, sua eficácia contra os efeitos degenerativos do Alzheimer ainda está a ser desvendada.
Neste novo estudo, os investigadores analisaram o impacto da rTMS sobre a plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade do cérebro em formar e reorganizar conexões entre os neurónios. Para isso, usaram ratos geneticamente modificados para desenvolver sintomas semelhantes ao Alzheimer humano.
Usando uma técnica de imagem chamada dois-fotões, conseguiram visualizar alterações microscópicas em duas estruturas chamadas botões axonais — pequenas terminações onde ocorrem as sinapses. Eles focaram especialmente nos terminaux boutons (TBs), que são ligações locais dos axónios com outros neurónios, e nos en passant boutons (EPBs), que conectam regiões mais distantes.
Os resultados mostraram que, antes da estimulação, os ratos com Alzheimer apresentavam menor actividade sináptica, o que reflete a perda de capacidade do cérebro em formar novas ligações — um dos principais impactos da doença. No entanto, após uma única sessão de rTMS, a renovação dos terminaux boutons aumentou até 213%, comparando-se aos níveis observados em ratos saudáveis.
Surpreendentemente, os EPBs não responderam à estimulação, sugerindo que os efeitos da rTMS são específicos a certos tipos de células e sinapses. Ainda assim, o facto de os TBs terem recuperado a actividade mostra que a rTMS pode ajudar a restaurar, mesmo que temporariamente, a capacidade de comunicação entre neurónios afectados pelo Alzheimer.
A investigadora principal, Dra. Barbora Fulopova, destacou que este é o primeiro estudo a mostrar respostas sinápticas tão claras à rTMS tanto em cérebros saudáveis quanto em cérebros com demência. “Estes resultados abrem caminho para o desenvolvimento de terapias personalizadas com base na estimulação cerebral”, afirmou.
Embora os efeitos tenham durado apenas alguns dias após a estimulação, os investigadores acreditam que tratamentos mais regulares podem ter efeitos prolongados e potencialmente melhorar a qualidade de vida de pessoas com Alzheimer.
O estudo representa um avanço significativo no entendimento da doença e oferece esperança para futuras abordagens terapêuticas. Contudo, mais investigações serão necessárias antes que a técnica possa ser aplicada com segurança em humanos.