Durante muito tempo, os cientistas se questionaram como os pandas gigantes, animais pertencentes à ordem dos carnívoros, conseguem sobreviver e até ganhar peso alimentando-se quase exclusivamente de bambu — uma planta com baixo teor calórico, pobre em proteínas e gorduras. Recentemente, uma equipa de investigadores revelou a resposta: o segredo está nas bactérias intestinais dos pandas.
Apesar da sua aparência fofa e da dieta herbívora, os pandas têm um sistema digestivo típico de carnívoros, o que significa que não possuem o intestino adaptado para digerir fibras vegetais com eficiência. Mesmo assim, passam até 14 horas por dia a comer bambu. Para compensar essa limitação fisiológica, os pandas contam com microrganismos no seu intestino que os ajudam a extrair o máximo de energia possível dos brotos e caules que consomem.
Os investigadores observaram que, durante a época de crescimento dos brotos de bambu — parte mais macia e nutritiva da planta —, há uma alteração significativa na microbiota intestinal dos pandas. Um dos microrganismos mais presentes neste período é a bactéria Clostridium butyricum, que contribui para a produção de ácidos gordos de cadeia curta, substâncias que fornecem energia adicional e promovem o acúmulo de gordura corporal.
Essa capacidade de engordar em certas épocas do ano é essencial para a sobrevivência da espécie, permitindo que os pandas criem reservas energéticas para enfrentar períodos em que o bambu disponível é menos nutritivo. As conclusões foram publicadas na revista científica Cell Reports e ajudam a compreender melhor como essa espécie singular se adaptou a uma dieta tão restrita.
Este estudo reforça a importância das relações entre os animais e os microrganismos que habitam os seus corpos — uma parceria invisível, mas vital para o equilíbrio da natureza.