Tecnologia indolor pode substituir as biópsias tradicionais

Cientistas do King’s College London desenvolveram uma nova tecnologia médica que poderá revolucionar a forma como as amostras de tecido humano são recolhidas para diagnóstico. Trata-se de um adesivo microscópico com agulhas nanoscópicas — o chamado nanoneedle patch — capaz de extrair biomoléculas da pele ou de tecidos expostos de forma quase indolor e sem necessidade de cortes, bisturis ou anestesia. A inovação foi divulgada pelo portal científico ScienceNews.org, a partir de uma publicação original da Nature Nanotechnology.

O dispositivo tem o tamanho de um pequeno selo e contém agulhas cerca de mil vezes mais finas que um fio de cabelo humano. Ao ser pressionado contra a pele ou tecido, ele penetra levemente as camadas superiores, recolhendo proteínas, lípidos e RNA mensageiros. A análise destas moléculas permite identificar doenças, monitorar o desenvolvimento de tumores e acompanhar inflamações, tal como acontece com as biópsias tradicionais.

Mas a grande vantagem do nanoneedle patch está na sua simplicidade. Diferente dos métodos convencionais, não exige corte nem anestesia. O paciente sente apenas uma leve pressão e, em alguns minutos, a amostra está recolhida. Segundo os investigadores, os resultados obtidos com o patch são equivalentes aos das biópsias tradicionais em mais de 90% dos casos testados.

Esta tecnologia tem um potencial especial para países em desenvolvimento, como Angola. Em zonas com acesso limitado a centros hospitalares e laboratórios, o patch poderá permitir rastreios rápidos e seguros. Campanhas de diagnóstico precoce de cancro da pele, por exemplo, poderiam ser feitas em comunidades rurais com o apoio de técnicos médios treinados. Basta aplicar o patch, recolher a amostra e enviar para análise.

Além disso, o adesivo pode ser útil durante cirurgias. Aplicado em tecidos suspeitos no momento da intervenção, ele permite extrair dados moleculares em cerca de 20 minutos — uma vantagem decisiva para decisões clínicas rápidas.

A equipa de investigação liderada pelo cientista Ciro Chiappini prevê ainda novas aplicações do patch, como a monitorização contínua de tumores e a recolha de biomarcadores através do suor ou de fluidos corporais. Estudos clínicos mais amplos estão em preparação, e os resultados são promissores.

Angola poderá beneficiar desta inovação, sobretudo se estabelecer parcerias com centros de investigação para testar a viabilidade do patch no nosso contexto. A democratização do diagnóstico é um dos passos mais importantes rumo a um sistema de saúde mais eficaz, acessível e centrado no bem-estar das populações.