Cientistas detectaram, pela primeira vez, resistência ao medicamento artemisinina em crianças com malária grave em África, um desenvolvimento alarmante que poderá afectar significativamente o tratamento da doença. A malária é responsável por 95% das mortes no continente, sendo as crianças as principais vítimas, de acordo com uma reportagem publicada pela Nature a 14 de Novembro de 2024.

 

A artemisinina, considerada o padrão de excelência no tratamento da malária, é utilizada em combinação com outros medicamentos para eliminar o parasita Plasmodium falciparum. Contudo, a investigação, conduzida no Uganda e publicada no JAMA, revelou que 10% das crianças com malária grave apresentaram resistência parcial ao medicamento. Essa resistência manifesta-se como um atraso na eliminação do parasita após o início do tratamento, aumentando os riscos associados à doença.

Impacto no Tratamento

O tratamento padrão para a malária grave envolve o uso intravenoso de artesunato, uma versão de acção rápida da artemisinina, seguido de uma terapia combinada de artemisinina (ACT). O estudo revelou mutações específicas no parasita que permitem a resistência parcial, comprometendo a eficácia da medicação. Além disso, casos de recorrência da infecção após o término do tratamento sugerem problemas adicionais com os medicamentos complementares, como a lumefantrina.

De acordo com Chandy John, especialista em doenças infecciosas pediátricas e co-autor do estudo, “se confirmado por outras investigações, isto poderá mudar as directrizes para o tratamento de malária grave em crianças africanas”.

 

Riscos de Propagação

 

A resistência à artemisinina foi identificada pela primeira vez no sudeste asiático nos anos 2000, mas a sua presença em África — onde a malária é mais prevalente — constitui um motivo de grande preocupação. Philip Rosenthal, especialista da Universidade da Califórnia, salienta que “mesmo que o medicamento ainda funcione, a sua acção mais lenta poderá levar a níveis mais altos de mortalidade”.

 

Embora o estudo tenha mostrado que todas as crianças tratadas se recuperaram, os resultados apontam para a necessidade de melhorias nos tratamentos disponíveis. Além disso, os investigadores temem que a resistência continue a evoluir e comprometa ainda mais a eficácia das terapias actuais.

 

O Que Pode Ser Feito?

Especialistas destacam a importância de monitorizar de perto os casos de resistência e investir no desenvolvimento de novos medicamentos e estratégias de controlo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) também recomenda o reforço de medidas preventivas, como o uso de mosquiteiros tratados com insecticidas e campanhas de consciencialização.

Como sublinha a Nature, a batalha contra a resistência aos medicamentos é um desafio global, exigindo esforços colaborativos para evitar retrocessos no controlo da malária. Este estudo serve como um alerta para a necessidade de maior investimento em investigação e inovação no combate a esta doença mortal.

Leia o artigo completo aqui:

https://www.nature.com/articles/d41586-024-03672-z?utm_medium=Social&utm_campaign=nature&utm_source=Facebook&fbclid=IwZXh0bgNhZW0CMTEAAR0qe_a7lG7BwNLsqJpeJnJNbquZm-1Mu3Qr_rHRoByIia_TF5lMZ9JsiBE_aem_CHky_X0rgeNzkcQvduwLrQ#Echobox=1731664586-1